domingo, 6 de setembro de 2009

DESCRENÇA DE UMA ARTISTA

Edward Hope

1/4 de séc. já se foi e minhas esperanças e sonhos também. Agora estou a beira de três décadas, nas quais as mesmas não me enxergo ainda e nem sei se um dia me verei nestas ou em outras, caso chegue. Pois ainda continuo a mesma menina de 10 anos atrás, mas porém com o couro um pouco mais grosso, e com mais cicatrizes e feridas que permaneceram eternamente...

Minha pele não é a mesma, tem suas rugas, manchas e células mortas que são mais vivas do que minha própria existência, pois as mesmas refletem diretamente a minha descrença com relação ao mundo e a minha própria perspectiva de futuro. Elas um retrato do bagaço de matéria morta que perambula pelas avenidas e dobra a coluna vertebral em busca de um ponto de luz, mesmo que este seja o do semáforo, que possa me sugerir um caminho, mesmo sendo este metafórico.
Carregar estes 26 anos nas costas não anda sendo nada fácil, muito menos para quem passou 6 anos destes a fantasiar no país das "maravilhas". De onde sai com apenas dois papeis que mal dão para limpar escrementos dos meus dogs que lambuzam o piso de taco que teve ter mais ou menos a mesma idade que eu. E uma experiência na TV como estagiária, que a mim como pessoa e profissional foi muito válida, mas que para o restante das pessoas que contratam funcionários, esta minha experiência foi apenas dois anos de passa tempo. Mas na verdade trabalhei lá muito mais do que o próprio cinegrafista concursado que apenas ia "batia o ponto", usar o telefone "público", e atrapalhar o trabalho dos estagiários. Mas que hoje por uma questão de indicação, não de competência é o gerente da emissora.

Citei esta situação para exemplificar minha descrença com relação aos "critérios" de seleção, que na verdade não existem. Mas sim, existem os critérios de indicação. De fato o que ocorre é que exitem excelêntes profissionais desempregados por não terem um dedo que aponte para os mesmos, e o mesmo acontece com os péssimos profissionais que vivem dando um jeitinho brasileiro e que por este motivo, sempre se dão bem por meio da malandragem.
Gilles Lapouge, jornalista correspondente em Paris traçou em linhas minuciosas e ousadas a questão da não mais existência do emprego e da funcionalidade do mesmo http://blogdofavre.ig.com.br/2009/06/o-fim-da-classe-media/ . Quando pensamos na insuficiência dos cursos superiores e a neurose dos "eternos" estudantes que estam a buscam incessantemente de "saber", de um título a mais ou de continuarem por mais 5 anos debaixo da estrutura patriarcal. Sua independência, ao contrário do que acontecia há 50 anos atrás, será por volta dos 40, 45 anos quando o mesmo terá um emprego fixo, geralmente concursado por algum órgão federal ou em tuor pela Europa financiado por uma bolsa governamental.

Esta tendência cresce cada dia mais com o aumento da expectativa de vida dos 75 anos para hoje em dia quase 100 anos. A própria mídia destacou este ano, como capa "A vida começa aos 50". O homem cada dia mais tenta se manter vivo durante um pouco mais de tempo, fugindo desta maneira da morta e se eternizando em vida, trapasseando a morte com remédios que retardam o envelhecimento das células, avanço tecnológicos e cosméticos. Raymond Kurzweil foi um dos "profetas" da singularidade que está por vir, se já não estivermos vivenciando a mesma http://www.terra.com.br/istoe/1929/entrevista/1929_vermelhas_01.htm . Esta semana se falou em uma vacina para cura da AIDS http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3382194-EI8147,00.html, então de fato a eternidade está próxima, mas o que valerá a mesma ao homem se ele não terá mais a busca por preenchimento do seu vázio? Nossas vidas possuem sentido, como buscamos incessantemente preeche-la com nossos "sonhos". Qual será a neurose a ser satisfeita com 300 anos??

Foi nesta reflexão que pensei quando me deparei com aqueles olhos vivos, porém bastante cansados que traduziam no corpo e no olhar o peso de 1 século de existência e que clamam por socorro daquele corpo morimbundo que somente emana e e lembranças reviradas de um passado reloca e se descoloca de uma ponta a outra da memória, como o andar da carruagem que cada dia vai mais lenta e dolorida.

Uma existência que contempla a beleza da juventude dos seus, mas que de tão bela fere os seus olhos calejados e gastos de tantas imagens vistas, admiradas e reprimidas. Angustia-me o quanto o tempo é cruel com a vida e com a beleza que dela emana. E mais cruel ainda é o homem que teima em querer incessantemente vece-lo a qualquer custo, em busca de um gole a mais de vida, sem sentido que a mesma seja perpetuadamente contida.

Faço estas reflexões aqui na cama enquanto mal consigo me levantar se forças de lutar pelos meus vinte seis anos com todo meu corpo cansado e dolorido, onde não consigo distinguir os dias da semana ou as vezes até do mes com minha alma latejante de desânimo e descrença de continuar a vida. Porém, tenho que me levantar, pois os cachorros ladram de fome e o piso ainda esta sujo... um piso que não é meu, mas que devo satisfação do mesmo...


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