terça-feira, 10 de março de 2020



Compulsão 

A fotografia sempre foi uma paixão, desde criança. Usava a câmera analógica da minha mãe e ansiosa aguardada o dia de revelar as fotos. Mas nesta época nao entendia de percepção do olhar, cores, luz e sombra, distorções e nuanceas de cores e o quão isso interfere na resultado da foto. 
Na adolescência conheci a máquina digital de uma amiga e fiquei encantada em poder ver no exato momento como a fotografia ficou. No entanto foi na graduação que entendi melhor sobre esta arte. Mas não o suficiente sobre as técnicas de manuseio. Contudo aprendi a olhar, obsevar e a construir belos recortes das cenas postas diante dos nossos olhos. Fotografar vai muito além de possuir o melhor equipamento ou de presenciar lindas paisagens. Pois a fotografia primeiramente acontece nos olhos do Observador. Como ele percebe dada cena, o recorte que faz com os olhos.. os ângulos que testa antes de disparar o registro. As sensações que sente diante da cena presenciada, as percepções que este quer provocar a si mesmo e ao espectador que dialoga com seu trabalho. 
Enfim, a natureza por si só oferta inúmeros espetáculos diariamente, só basta nos desconectarmos alguns minutos dos nossos dilemas, frustrações, imersão virtual, cansaço acumulado e olharmos para este belo e pulsante universo que nos convida todos os dias a mergulhar de forma intensa e grata. Fotografar é amar cada belo detalhe que a vida nos presenteia todas manhãs. 



















terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Arte Postal



Projeto ao qual participei. Arte postal foi um projeto desenvolvido pelo @guiapontosdevista e tem a intenção de dar visibilidade a arte para artistas locais serem conhecidos não só por seus conterrâneos, mas também até onde um cartão postal possa chegar levando arte, beleza,reflexão e questionamentos. Os mesmos serão distribuídos  gratuitamente, e quem se interessar me procure por direct passando dados para envio. Se possível gostaria que quem recebesse o postal, tirasse uma foto segurando ele em algum lugar especial na sua cidade e me enviasse. Quero fazer um trabalho performático com estes registros... uma alusão ao filme da Amelie Poulain. Mandarei o postal com uma frase, seja de um poema, música ou pensamento. E que arte possa se espalhar pelo mundo! E parabéns pela pela iniciativa @guiapontosdevista !!
#artepostal

Mar do Caribe

É com uma imensa satisfação,orgulho e ombros mais leves que apresento a tela da rifa que fiz há quase há 1 ano... fiz sem ter certeza que está empreitada daria certo.. mas ouvi a voz do meu coração e está idéia implantada por Deus na minha cabeça. (Obrigada meu Deus). Sou imensamente grata a todos que contribuíram com este projeto e felizmente além da tela "Mar do Caribe" já estar na casa do contemplado, meu projeto está caminhando, e logo teremos respostas. Acredito que nada é por acaso,então esta "necessidade" se tornou um "pretexto" para voltar a pintar.

Sagitariana


E depois de mais de 1 mês... consegui entregar a tela... foram dias e noites a fio que me ajudaram a controlar o que me devorava... cada detalhe,tem seu aspecto revelador e importante dentro da obra... cada foto pesquisada,retrata uma lado marcante da personalidade desta querida amiga, @katiakamine... completamos 18 anos de amizade... Ao meu ver a arte somente cumpre seu papel se ela contempla alguns destes quesitos: reflexão, questionamento e emoção... dentro deste percurso,tenho em débito algumas homenagens a serem prestadas a pessoas mais que especiais que estão acompanhado está caminhada nada fácil... e sinceramente, um trabalho assim, da muito trabalho, por isso nem sei como contabilizar... No entanto o mais especial é a satisfação de todos envolvidos.
#homenagens
#arteterapia

Somos todas Macabéias




E foi assim que consegui construir minha trilogia... engasgada na garganta e no peito e motivada a me inserir no espaço das  artes uberlanse... No entanto foi como um tiro no escuro... fiz meu apto de internato-ateliê,e assim passei dias a fio,desenhando, pintando e colando. Infelizmente não foi dessa vez.. Mas o que realmente valeu a pena,foi voltar a produzir... resultando assim nessa série intitulada "Libertação".
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A primeira tela, "somos todas Macabéias", trata de várias versões de mim mesma.. em vários momentos distintos... Macabéia é a protagonista do romance A Hora da Estrela de Clarice Lispector. Está me foi comparada em dado momento da minha vida... onde a neguei... mas que recentemente me reconheci nela... em sua ingenuidade pueril e crente sempre na vida e nas pessoas.
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A Segunda tela, "Ancorados" trata do meu universo dentro do autismo e como meu filho foi minha âncora diante a montanha russa na qual minha vida já se arriscou,e que agora a vida tomara outro ritmo e direções...
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A terceira tela, "Caixa de Pandora" pega um gancho na referência a história mitológica com o mesmo nome. Está são diários revirados e lidos... julgados e massacrados... histórias mal passadas,expostas agora e pintadas abrindo uma fenda em uma porta entreaberta,por onde os segredos de toda uma vida estão a delatar a vida "insonsa" de uma menina que um dia sonhava em ser artista...
#assemblagem

sábado, 9 de outubro de 2010

"MEU PARTIDO É UM CORAÇÃO PARTIDO



E as ilusões estão todas perdidas.." Aquela garota que queria mudar um mundo, agora vive em cima do muro... das desilusões e decepções. Acreditava que seu esforço e crença mudaria algo no mundo, mas que na verdade a inexistência dela nada alteraria no funcionamento do mesmo. Sua militância saudosamente relembrada nos folhetins panfletários do partido comunista estão amassados dentro de alguma caixa empoeirada, servindo apenas de registro de uma época nostálgica, onde ainda se acreditava em algo. Agora resta o vazio da ausência da esperança revolucionária ou até mesmo qualquer esperança de se viver. Mas é ela quem é nossa bomba propulsora, de continuar a seguir para algum lugar, mesmo que não seja onde gostariamos de estar "...Ideologia! Eu quero uma para viver..."




Reservada na minha cabine momentaneamente privada. os números me encuralaram.. 16 na cabeça como voto ideológico, mas quando chegou em senador...shii, não sabia o restante da legenda, então chutei no 0 e no 1, e por coenscidência extrema deu certo! Agora o último e mais aguardado, tentei deixar a ideologia de lado(já que a mesma não esta em suas funções plenas) e tentei dar um voto de confiança a esperança, apertando o 43 (já que o number 3 é meu numero de sorte). Mas dos males o menos, pelo menos houve um 2º turno... mas onde estava aquela garota que queria mudar o mundo? Será que ela existe ainda? Ou esta apenas perdida no meio da papelada velha de quase 10 anos atrás? Talvés ela tenha crescido e percebido que o mundo não é um conto de fadas, acordando assim para a vida que quase lhe foi arrancada por pedrinhas biliáticas.




1 ano de renascimento, após ter escapado da morte, mas tudo parece não ter mudado muito... continuo tentando acreditar em algo e em busca de algo, mais "...Ideologia! Eu quero uma pra viver...". Correndo atrás de centavos, enquanto alguns, não tão poucos já acumulam seus bilhões e todos os dias precisamos acreditar na vida, vestir nossa armadura, colocar nossas máscaras e encarar o dia que nos entima a viver a vida, mesmo que não seja a que um dia sonhamos em viver. Mas será que sabemos o que realmente queremos?








quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Reflexões


23 de setembro de 2009 são feitas duas entras em hospitais distintos de cidades distantes, porém com a mesma causa:pedras atravessadas nos corpos: um senhor com mais de 100 anos e uma "jovem" de 26 anos.


Ele um dos maiores arquitetos modernos do mundo com brilhantismo na alma e na vida. Ela alguém que busca sentido na sua própria existência, e que utiliza da arte e das palavras meios de se sentir viva. Niemeyer tem mais para contar do que possamos imaginar...ou talvez nem ele mesmo consiga se lembrar de todas as pedras que correm pelo rio da sua vida. Seus projetos são pura sensualidade, inspirado sempre pelas curvas femininas e o que o motivam a acordar todos os dias e seguir em frente, em busca da vida que cada dia é mais economica a ele.


Suas obras rasgam o espaço sem pedir licença e enxem nossos olhos de admiração e estranhamento diante de formas tão sublimes e eloqüentes que se estendem além da nossa percepção visual...e nosso universo fantasioso de criatividade e sonhos.... sonhos estes que esperamos saltar do palco que por ele foi traçado em escandalosa arquitetura, mas que infelizmente ainda, depois de 8 anos de construção não saiu do concreto emaranhado a vigas. Um lugar que ao invés de deslumbrar com sua beleza e contemporâneadade, nos assusta com seus vazios obscuros, que mais se assemelham a um monsoléu abandonado do que um Grand Teatro em acenssão. São quase dez anos de construção e mais de R$6 milhões escoados pelo ralo das várias licitações que foram e as que estão por vir.


É doloroso presenciar tal fato e saber que o mesmo não tem solução. É mais doloroso ainda é precentir que o parto desta obra será tardio a perduração de vida do seu criador. Vida bem vivida permeada a muita fumaça, álcool e mulheres.


Meu resumo de vida se assemelha aos esboços dos projetos aquitetônicos, que se findam apenas aos crokis fantasiados em construções mirabolantes. Porém se encontram como a obra inacabada de Niemeyer, porém sem acabamento esboçado, tornando-se um esqueleto vivo sem carne e repleto de pedras espalhadas....

domingo, 6 de setembro de 2009

DESCRENÇA DE UMA ARTISTA

Edward Hope

1/4 de séc. já se foi e minhas esperanças e sonhos também. Agora estou a beira de três décadas, nas quais as mesmas não me enxergo ainda e nem sei se um dia me verei nestas ou em outras, caso chegue. Pois ainda continuo a mesma menina de 10 anos atrás, mas porém com o couro um pouco mais grosso, e com mais cicatrizes e feridas que permaneceram eternamente...

Minha pele não é a mesma, tem suas rugas, manchas e células mortas que são mais vivas do que minha própria existência, pois as mesmas refletem diretamente a minha descrença com relação ao mundo e a minha própria perspectiva de futuro. Elas um retrato do bagaço de matéria morta que perambula pelas avenidas e dobra a coluna vertebral em busca de um ponto de luz, mesmo que este seja o do semáforo, que possa me sugerir um caminho, mesmo sendo este metafórico.
Carregar estes 26 anos nas costas não anda sendo nada fácil, muito menos para quem passou 6 anos destes a fantasiar no país das "maravilhas". De onde sai com apenas dois papeis que mal dão para limpar escrementos dos meus dogs que lambuzam o piso de taco que teve ter mais ou menos a mesma idade que eu. E uma experiência na TV como estagiária, que a mim como pessoa e profissional foi muito válida, mas que para o restante das pessoas que contratam funcionários, esta minha experiência foi apenas dois anos de passa tempo. Mas na verdade trabalhei lá muito mais do que o próprio cinegrafista concursado que apenas ia "batia o ponto", usar o telefone "público", e atrapalhar o trabalho dos estagiários. Mas que hoje por uma questão de indicação, não de competência é o gerente da emissora.

Citei esta situação para exemplificar minha descrença com relação aos "critérios" de seleção, que na verdade não existem. Mas sim, existem os critérios de indicação. De fato o que ocorre é que exitem excelêntes profissionais desempregados por não terem um dedo que aponte para os mesmos, e o mesmo acontece com os péssimos profissionais que vivem dando um jeitinho brasileiro e que por este motivo, sempre se dão bem por meio da malandragem.
Gilles Lapouge, jornalista correspondente em Paris traçou em linhas minuciosas e ousadas a questão da não mais existência do emprego e da funcionalidade do mesmo http://blogdofavre.ig.com.br/2009/06/o-fim-da-classe-media/ . Quando pensamos na insuficiência dos cursos superiores e a neurose dos "eternos" estudantes que estam a buscam incessantemente de "saber", de um título a mais ou de continuarem por mais 5 anos debaixo da estrutura patriarcal. Sua independência, ao contrário do que acontecia há 50 anos atrás, será por volta dos 40, 45 anos quando o mesmo terá um emprego fixo, geralmente concursado por algum órgão federal ou em tuor pela Europa financiado por uma bolsa governamental.

Esta tendência cresce cada dia mais com o aumento da expectativa de vida dos 75 anos para hoje em dia quase 100 anos. A própria mídia destacou este ano, como capa "A vida começa aos 50". O homem cada dia mais tenta se manter vivo durante um pouco mais de tempo, fugindo desta maneira da morta e se eternizando em vida, trapasseando a morte com remédios que retardam o envelhecimento das células, avanço tecnológicos e cosméticos. Raymond Kurzweil foi um dos "profetas" da singularidade que está por vir, se já não estivermos vivenciando a mesma http://www.terra.com.br/istoe/1929/entrevista/1929_vermelhas_01.htm . Esta semana se falou em uma vacina para cura da AIDS http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3382194-EI8147,00.html, então de fato a eternidade está próxima, mas o que valerá a mesma ao homem se ele não terá mais a busca por preenchimento do seu vázio? Nossas vidas possuem sentido, como buscamos incessantemente preeche-la com nossos "sonhos". Qual será a neurose a ser satisfeita com 300 anos??

Foi nesta reflexão que pensei quando me deparei com aqueles olhos vivos, porém bastante cansados que traduziam no corpo e no olhar o peso de 1 século de existência e que clamam por socorro daquele corpo morimbundo que somente emana e e lembranças reviradas de um passado reloca e se descoloca de uma ponta a outra da memória, como o andar da carruagem que cada dia vai mais lenta e dolorida.

Uma existência que contempla a beleza da juventude dos seus, mas que de tão bela fere os seus olhos calejados e gastos de tantas imagens vistas, admiradas e reprimidas. Angustia-me o quanto o tempo é cruel com a vida e com a beleza que dela emana. E mais cruel ainda é o homem que teima em querer incessantemente vece-lo a qualquer custo, em busca de um gole a mais de vida, sem sentido que a mesma seja perpetuadamente contida.

Faço estas reflexões aqui na cama enquanto mal consigo me levantar se forças de lutar pelos meus vinte seis anos com todo meu corpo cansado e dolorido, onde não consigo distinguir os dias da semana ou as vezes até do mes com minha alma latejante de desânimo e descrença de continuar a vida. Porém, tenho que me levantar, pois os cachorros ladram de fome e o piso ainda esta sujo... um piso que não é meu, mas que devo satisfação do mesmo...


terça-feira, 26 de maio de 2009

Dolores






Dolores é projeto que se iniciou em no segundo semestre de 2006, como um exercício da disciplina de cerâmica e que por empatia com e técnica de rolinho e com a forma por mim iniciada, que dei continuidade na pesquisa do tema: dor e da variação da forma inicial.

Instigada pelo assunto e principalmente pela platicidade e organicidade que a argila emanava, tomei Dolores como minha monografia a ser defendida. Grande desafio este, pois minha pesquisa invade o campo da psicanalise e da filosofia mais niilista de todos os tempos, a de Fredirick Nietzsche. Passar horas, meses confinada no meu ateliê de cerâmica, não foi nada fácil, mesmo que seja um prazer inigualável esta experiência. Pois por mais prazeroso que seja trabalhar com a argila, a mesma ao mesmo que tempo que alivia as tensões também suga energia.
Dolores trata de um assunto muito delicado, porém muito mal interpretado. Trato da dor existencial do sujeito, a que não vemos, não ouvimos. E que apenas quem a sente pode decorrer sobre ela. Mas as vezes, nem mesmo o próprio sujeito que a sente palpitar sabe exatamente falar sobre isso de forma teórica, ele apenas sente esta vazio e tenta direciona-lo para algo... Teoricamente falando, está angústia é inerente a todo ser desde o seu nascimento, contudo a mesma desde cedo é direcionada pela família deste indivíduo com atividades e mitos a seguir e conquistar. Cada etapa vencida, um mito a mais a conquistar. Porém, existem pessoas que simplesmente não conseguem seguir esta vida padronizada e questionam tudo, até o próprio ato de existir, de se fazer algo, ser alguém. Quando estas pessoas se encontram neste vazio de sentido da vida, a mesma se torna um tormento, pois ali só há sofrimento de se encontrar neste repleto vazio. E este é um caminho sem volta, pois no instante que o sujeito se desconecta da crença na vida e de todos os mitos que ela pode oferecer, o religar-se se torna praticamente impossível, pois o único desejo ali existente é o findar de tudo, inclusive da própria existência.








Nietzsche e Freud foram dois teóricos que entendiam muito bem esta questão, mas ambos tinha posicionamento distinto desta. Nietzsche era um anticristo – não no sentido literal da palavra, pois o mesmo acreditava em Deus e foi criado num ambiente religiosamente muito rígido. Mas no sentido de ser contra as imposições da igreja, da censura, do dito de que tudo é pecaminoso, de que temos que controlar nossos instintos – Nietzsche era puro instinto e não aceitava restrições quanto aos prazeres terrenos. Defendia o livre e máximo gozo dos prazeres oferecidos aos homens e sua liberdade intelectual, onde o sujeito tem liberdade de acreditar em qualquer filosofia ou dogma. Porém Nietzsche era um niilista convicto e não acreditava em nada, a não ser na sua liberdade e no Super Homem – não o dos quadrinhos, mas o homem que quebra as barreiras do cristianismo e vive sua vida até a máxima potência do desfrutar dos seus prazeres – vivendo desta forma de maneira intensa sua vida, sem a castração da igreja e da sociedade com seus mitos e fábulas. Este Super Homem apenas direcionaria sua vida, para saciar seus instintos, gozando assim ao máximo dela.










Freud, o pai da psicanálise e contemporâneo de Nietzsche já tinha plena consciência da angústia do homem e desta sua inquietação perante a vida, deste vazio absoluto e deste deslocamento de tudo. Porém este defendia que o homem deveria postergar o prazer momentâneo para desfrutar de um melhor aproveitamento de sua existência, que concerne num direcionamento desta energia voraz (vazio) que constrói e destrói a vida. E Eros(pulsão para vida) e Thânatus(pulsão para a morte) são os Titãs que duelam dentro do sujeito, e o mesmo apenas vive se ambos estiverem presentes dentro de si, pois apesar dos mesmos serem forças antagônicas, eles precisam um do outro, pois o homem apenas vive com o equilíbrio destes. O Eros que luta por um direcionamento deste vazio, não teria o que fazer se o Thânatus que defende a livre instinto do homem, não existisse e vice versa, pois a presença única de Thânatus somente levaria o sujeito a morte eminente. Por isso é necessário que haja esse embate de questionamentos dentro do homem, sem ele o sujeito seria um morto em vida, em suas certezas absolutas, pois o sujeito apenas vive e deseja algo pela questão da falta, seja ela de cunho carnal ou ideológico. Quando o mesmo não sente falta, não haverá necessidade de se buscar nada, não se deseja nada, daí a morte já instalada.






Dolores em suas formas contorcidas, repletas de fissuras, rasgadas de dor e desespero refletem de forma direta este embate de Eros e Thânatus e esta angústia desde embate dentro de si. Onde a mesma se encontra no limiar de vida e morte, num vôo rasante entre o “chão e o céu”, no qual cada “golpe” dos Titãs é um rasgo, no qual a mesma vai se desmanchando aos poucos...
Dolores consiste em uma instalação de dez peças de cerâmica, onde cada um se expressa de forma única, no seu “questionamento” interno, onde suas angústias se debatem e se encontram com outras que ali estão presente a se observarem. Como se todas fossem cúmplices uma das outras, mas cada uma em seu canto com sua dor, com seu sofrimento.



O próprio ato de construção foi livre de direcionamentos e padrão de estruturação. Pois não segui mapas (croquis) de elaboração das peças, e deixei que esta energia solta me guiasse, que a própria Dolores que estava por surgir me levasse ao seu encontro, a sua materialidade. A organicidade da argila foi manobrando minhas mãos livremente, porém eu como vetor desta ligação da argila com esta energia, foi quem conduziu neste direcionamento. Por outro lado, eu como mãe que deu a luz a Dolores, ao mesmo tempo que sou conduzida por ela, também tento direcionar o seu vazio . Sendo nossa relação de amor e ódio em busca de uma satisfação, seja ela eterna ou momentânea, onde o fator erótico é força motriz na construção da nossa relação que é plástica e filosófica.



Alguns paralelos que tracei entre as obras de Louise Bourgeois, Clarice Lispector, Frida Kahlo e Nuno Ramos: Em Louise Bourgeois me liguei a ela por seu trabalho altamente freudiano e por seus questionamentos sobre o sujeito e vazio do mesmo, com um trabalho impressionantemente doloroso que é o Arco da Histeria, que tem relação direta com meu trabalho e da dor que o mesmo emana. Já em Clarice Lispector trabalhei da dificuldade do ato criador, do drama de dar parto a uma idéia seja ela literária ou plástica e desta angústia de dizer e como dizer algo, como foi belíssimo bem trabalhado no livro “A hora da Estrela”. Na obra de Frida, destrincei mais sua vida do que propriamente seu trabalho, pois o mesmo é reflexo constante em sua pintura. O que de fato foi uma vida marcada de dor e intensidade, que foi retratado de maneira organicamente direta e constante na vida desta artista que viveu com os princípios que Nietzsche lançou, sendo Frida um ícone do Super Homem. Meu estudo sobre Nuno Ramos se absteve no último capitulo “Minha Fantasma” do seu mais recente livro, “Ensaio Geral”, 2007, editora globo. O mesmo trata de vários projetos e textos que o mesmo publicou em jornais ao longo de sua vida. O último capítulo, “Minha Fantasma”, objeto de meu estudo, foi sobre o diário que o mesmo fez sobre a crise depressiva de sua esposa no ano de 1999, e seus relatos quanto ao estado que a mesma se encontrava. Meu diálogo com o trabalho de Nuno Ramos, foi mais no âmbito de acompanhante e observação desta dor incessante. Como olhar e conviver com ela fora do seu corpo, mas presente constante em sua vida. Caminhar ao lado do amor com esta angústia presente na relação. Enfim, é mais complexo que pode ser descrito aqui ou explicitado como Nuno Ramos fez através da palavra. Já eu me expressei através da argila esta dor, que me foi referência soberana na minha construção plástica e filosófica de Dolores.




Todas as peças em exposição estão a venda. Preço sob consulta pelo e-mail miguelarabelo@gmail.com

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Homenagem


Como estréia deste blog, que anúncio como galeria, não só minha, mas de artistas que elencarei como relevantes a meu ver, trago uma abertura melancólia pela perda, mas que porém é radiante pelo seu explendor...
O contrário do que o cristianismo prega, neste domingo de Páscoa não houve apenas o renascimento de Cristo, mas também a partida de um grande artista, que dedicou sua vida a artes plásticas, trabalhando com diversos materiais - arame, madeira, pregos, bronze - tanto material nobre como o mais simples possível. Sua busca era sempre a da beleza lírica da forma e sua essência.

Franscico Stockinger, popularmente mais conhecido como Xico Stockinger, nasceu na Austria em 1919 e veio para o Brasil em 1921. Ele se formou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde também trabalho no Ateliê de Bruno Giorgi.

No ano de 2008, o Muna (Museu Universitário de Artes), da Universidade Federal de Uberlândia, recebeu as obras do acervo permanente do MAB, e tive o prazer de trabalhar na ação educativa desta exposição. Dentre as obras dos artistas que compunham a composição da galeria, havia uma obra a príncipio belíssima e bastante figurativa, mas que ao um segundo olhar ela emanava a complexidade de sua construção e discussão. Era a figura de um aparente Dom Quixote montado no seu fiel Rocinante. Porém percebe-se que o mesmo não é feito apenas de madeira, mas também de latão, suas patas são delicados cilíndros e seu cavaleiro, mais parecia uma amazonas com sua pequena cabeça e seu corpo esguio. O tratamento que Xico deu a está obra foi incrível, pois o mesmo fez com que o latão e a madeira se fundissem em uma coisa só, nos conduzindo desta maneira a uma ilusão de ótica sobre o que de fato era feito a escultura? Onde começava um material e terminaval o outro?

Está Escultura incrivelmente bela, ficará apenas guardada na memória de quem a flertou ou de quem a flerta-rá futuramente e pessoalmente, pois as imagens da mesma não estão disponíveis na web.

Apesar da morte ser algo triste e melancólico, Xico Stockinger deixou seu nome e sua obra marcados na história e na vida pessoal de cada um que tiveram contato com o artista ou com seu trabalho. Daqui em diante, não podemos esperar muito de um universo cada dia mais robotizado e sujeitos cada vez menos orgânicos... acredito que de certa forma algumas de suas obras já premonizavam este fato...

Deixo alguns trabalhos de Xico Stockinger, o primeiro tem bastante semelhança com a obra por mim descrita acima.



Guerreiro

Xico Stokinger com sua musa

Gravura de Dom Quixote e Sam Chupança